Um Passo em Direção à Cura

Em Dezembro de 2018 Max Lucado participou de um congresso chamado “Respondendo ao Assédio Sexual” na Universidade de Wheaton, Illinois, EUA. O que segue é uma adaptação dos comentários de Max.

de Max Lucado

Meu nome está na lista de agradecidos participantes da conferência de hoje. Eu também sou um sobrevivente. Fui abusada sexualmente por um membro de nossa comunidade quando tinha 12 anos de idade. Estar aqui me lembra da grande cura que o Senhor fez em minha alma.

Ouvir as apresentações de hoje me alertou para as ocasiões em que subestimei o impacto que minhas palavras e ações tiveram em relação às amigas e colegas de trabalho. Quer sejam piadas de vestiário no atletismo do ensino médio ou uma atitude desdenhosa em relação às colegas do sexo feminino, fui alertada sobre meus erros. Sinto muito e resolvi ser melhor.

“Senhor, que Tua misericórdia esteja sobre nós enquanto procuramos tratar uns aos outros com mais respeito. Conceda-nos um maior senso de bondade e autocontrole. Que haja cura entre os feridos. Em nome de Jesus.”

Entre os muitos benefícios de ser avô está a abundância de novas ilustrações de sermões. Temos dois netos. Rosie tem três anos e Max tem um ano.

Rosie tem uma mecha de cabelos ruivos, olhos tão azuis quanto o mar do Caribe e um espírito independente que me faz pensar em sua avó. Ela pode ser um desafio.

Na semana passada fui passear com ela e meu fiel e inabalável cão, Andy.

Andy adora explorar o leito de um rio seco perto de nossa casa. E Rosie adora seguir logo atrás dele. Ela acha que pode ir aonde ele for. E quando me ofereço para ajudá-la, ela me afasta. Mais uma vez, ela pode ser um desafio. Então Andy abriu o caminho. Rosie correu atrás dele e eu tentei acompanhá-los.

Andy avistou uma moita de arbustos e correu para eles. Rosie pensou que ela poderia fazer o mesmo. Andy correu direto, mas Rosie ficou presa. Os galhos arranharam sua pele e ela começou a chorar.

O que eu fiz? Eu entrei no meio disso com ela. Entrei no matagal, estendi minhas mãos e ela ergueu os braços e me deixou tirá-la.

Isso não é uma imagem do Evangelho? Não nos encontramos, em muitas ocasiões, presos nas moitas da vida? Nós nos machucamos, arranhamos. Ficamos presos. Nós precisamos de ajuda. E quando pedimos ajuda, adivinha quem aparece? Leia estes versículos e veja o que quero dizer:

Jesus foi com Jairo. Muitas pessoas seguiram e continuaram se aglomerando ao redor.

Na multidão estava uma mulher que estava sangrando há doze anos. Ela tinha ido a muitos médicos, e eles não fizeram nada, exceto causar-lhe muita dor. Ela pagou a eles todo o dinheiro que tinha. Mas em vez de melhorar, ela só piorou.

A mulher tinha ouvido falar de Jesus, então ela veio por trás dele no meio da multidão e mal tocou em suas roupas. Ela disse a si mesma: “Se eu puder apenas tocar as roupas dele, serei curada”. Assim que os tocou, seu sangramento parou e ela percebeu que estava bem.

Naquele momento, Jesus sentiu o poder sair dele. Ele se virou para a multidão e perguntou: “Quem tocou em minhas roupas?”

Seus discípulos disseram-lhe: “Olhe para todas essas pessoas aglomerando-se ao seu redor! Como você pode perguntar quem tocou em você?” Mas Jesus voltou-se para ver quem o havia tocado.

A mulher sabia o que havia acontecido com ela. Ela veio tremendo de medo e se ajoelhou na frente de Jesus. Então ela contou a ele toda a história.

Jesus disse à mulher: “Agora você está bem por causa da sua fé. Que Deus lhe dê paz! Você está curado e não sentirá mais dor.” (Marcos 5:24-34 CEV)

Um parágrafo mais triste já foi escrito? Veja estes frases: “sangrando por doze anos”, “foi a muitos médicos”, “eles não fizeram nada”, “causaram-lhe dor”, “ela pagou todo o dinheiro que tinha”. Ela estava “piorando”.

Ela sofria de um fluxo perpétuo de sangue. Tal condição seria difícil para qualquer mulher de qualquer época. Mas para uma judia do primeiro século, nada poderia ser pior. Nenhuma parte de sua vida foi indene de sofrimento.

Fisicamente exausta e socialmente marginalizada. Ela havia procurado ajuda “sob os cuidados de muitos médicos” (Marcos 5:26 NVI). Mas “eles não fizeram nada, exceto causar-lhe muita dor”. Eu ouço tons de negligência nessas palavras: uma confiança violada.

Eu a imagino agachada contra uma parede, a cabeça encapuzada e abaixada para não ser notada. Uma multidão está vindo em sua direção, dezenas de aldeões. Cristo e Jairo lideram a multidão. Ela pondera suas opções. “Se eu puder tocar na roupa Dele …” Decisão arriscada. Para tocá-lo, ela terá que tocar as pessoas. Se um deles a reconhecer. . . Olá repreensão, adeus cura. Mas que escolha ela tem? Ela não tem dinheiro, sem influência, sem amigos, sem soluções. Tudo o que ela tem é um palpite maluco de que Jesus pode ajudar e uma grande esperança de que ele o faça.

Ela faz seu movimento. Ela se ergue por trás e abre caminho entre as pessoas. Ela localiza a túnica sem costura que algum dia servirá como recompensa de um jogador ao pé da cruz. Ela engole em seco e enfia a mão no meio da multidão.

“Assim que ela tocou [nas roupas], o sangramento parou e ela soube que estava bem. Naquele momento, Jesus sentiu o poder sair dele. Ele se virou para a multidão e perguntou: ‘Quem tocou em minhas roupas?’ ” (Marcos 5:30).

Ela sentiu isso. Imediatamente. Poderosamente. Enfaticamente. Ela sabia que algo havia acontecido.

Jesus também. É como se o Cristo divino estivesse a um passo à frente do Cristo humano e a cura acontecesse antes que o primeiro pudesse alertar o segundo.

Quem me tocou? Ele perguntou. Os discípulos podem ter pensado que ele estava brincando. Pessoas pressionadas de todos os ângulos. Quem não tocou em você? Eles podem ter se perguntado.

Mas existe o toque por acaso e existe o toque pela providência. E o toque fiel e arriscado da mulher foi o suficiente para parar Jesus em seu caminhar.

Ainda é o suficiente. Para que não percamos este ponto, posso declará-lo claramente?

Quando você busca Cristo, Ele para tudo por você. As vítimas de abuso sexual precisam desesperadamente saber disto. Eu sei porque eu precisava.

A estação mais tempestuosa da minha vida ocorreu quando eu tinha 12 anos. Eu tinha idade suficiente para jogar beisebol, futebol e andar de bicicleta. Eu tinha idade suficiente para me apaixonar por uma garota, possuir um frasco de colônia e memorizar a Tabela Periódica dos Elementos. Mas eu não tinha idade suficiente para processar o que aconteceu naquele ano: abuso sexual nas mãos de um homem adulto.

Ele entrou no meu mundo disfarçado de mentor. Ele fez amizade com várias famílias em nossa pequena cidade. Lembro-me dele como espirituoso, charmoso e generoso. O que eu não sabia, o que ninguém sabia, é que ele tinha olhos para meninos.

Ele nos convidava para comer hambúrgueres em sua casa. Ele nos levava para passear em sua camionete. Ele nos levava para caçar e fazer caminhadas e se oferecia para responder a todas as nossas perguntas sobre a vida, o amor e as meninas. Ele possuía revistas, do tipo que meu pai não permitia. E ele faria, e nos faria fazer, coisas que não vou repetir e não posso esquecer.

Um acampamento de fim de semana foi especialmente perverso. Ele colocou cinco de nós em uma van e dirigiu até um acampamento. Em meio às barracas e sacos de dormir, algumas garrafas de uísque. Ele bebeu durante todo o fim de semana e assim foi passando pela tenda de cada um dos meninos.

Ele nos disse para não contarmos a nossos pais, insinuando que nós éramos os culpados pelo comportamento dele. Ele estava nos impedindo de ter problemas, disse ele, ao nos fazer jurar segredo.

Que canalha.

Voltei para casa no domingo à tarde me sentindo enojado e cheio de vergonha. Eu tinha perdido o culto da ceia na igreja naquela manhã. Se alguma vez precisei tomar a ceia, foi naquele dia. Então, eu organizei minha própria ceia. Esperei até que mamãe e papai fossem para a cama e fui para a cozinha. Não encontrei nenhum biscoito, mas na geladeira encontrei umas batatas do almoço de domingo. Não consegui localizar nenhum suco, então usei leite. Coloquei as batatas em um pires e despejei o leite em um copo e celebrei a crucificação de Cristo e a redenção da minha alma.

Você pode deixar sua imaginação invocar a imagem do garoto ruivo de pijama, recém-banhado e com cara de sardas parado perto da pia da cozinha? Ele quebra a batata e bebe o leite e recebe a misericórdia de Cristo sobre sua alma frágil.

O que faltava ao sacramento na liturgia, ele compensava com ternura. Jesus me encontrou naquele momento. Eu O senti, Seu amor, Seu toque. Não me pergunte como eu sabia que Ele estava perto. Eu apenas sabia.

A cura começa com a aceitação do amor ilimitado de Jesus.

“Pode algo nos separar do amor que Cristo tem por nós? Podem os problemas ou calamidades ou sofrimentos ou fome ou nudez ou perigo ou morte violenta? … Em todas essas coisas temos plena vitória por meio de Deus que mostrou seu amor por nós. Sim, estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os espíritos governantes, nada agora, nada no futuro, nenhum poder, nada acima de nós, nada abaixo de nós, nem qualquer outra coisa em todo o mundo jamais será capaz de separa-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus nosso Senhor. ” (Romanos 8:35-39 NCV)

Oh, o amor curador de Cristo. Você o receberia? Você o convidaria a penetrar nas partes feridas de sua alma? Deixe Jesus fazer por você o que fez pela mulher em Cafarnaum. “… Ele ficou olhando ao redor para ver quem havia feito isso” (Marcos 5:32 NVI).

Ele continuou procurando. Ele ficou lá, esperando, olhando. Ele se recusou a ceder. A multidão, sem dúvida, queria que ele seguisse em frente. Jairo, com certeza, queria que ele se apressasse. Mesmo assim, Jesus ficou parado como uma estátua de pedra. O momento ficou quieto, tão quieto que no fundo da multidão uma voz suave foi ouvida. “Fui eu”. Já se passaram doze anos desde que ela se manifestou. Mas agora, encorajada pelo poder de Jesus, ela o faz.

E agora, queridas irmãs em Cristo, vocês fizeram o mesmo. Em virtude dos movimentos #metoo e #churchtoo (movimentos nos EUA contra o assédio às mulheres), você se manifestou. Você saiu da margem para o centro. Você, movido pela fé, arriscou tudo e veio à frente.

Minha oração é que nós, o corpo de Cristo, sigamos o exemplo de Cristo.

“Ela veio, tremendo de medo, e se ajoelhou diante de Jesus. Então ela lhe contou toda a história” (Marcos 5:33 TEV).

A história toda! Quanto tempo se passou desde que alguém parou para ouvir a história dela? Jesus fez. Ele não precisava. Curar a aflição teria sido o suficiente. O suficiente para ela. O suficiente para as multidões. Mas não o suficiente para Jesus. Ele queria fazer mais do que curar seu corpo. Ele queria ouvir sua história. O milagre restaurou sua saúde. A escuta restaurou sua dignidade. E o que ele fez a seguir, a mulher nunca esqueceu. Ele a chamou de “filha”. Esta é a única vez nos Evangelhos que ele fez isso com uma mulher. “Filha, tenha bom ânimo; sua fé o curou. Vá em paz” (Lucas 8:48 NKJV).
Essa história preciosa nos fornece os passos iniciais para a cura.
Para a igreja, agora é a hora de ouvir. E homens, caso precise ser dito, deixe-me dizer. Agora é a hora de ouvirmos as mulheres. Esta é a ocasião para conversas sinceras que começam com esta pergunta:
“Ajude-me a entender o que é ser mulher nos dias de hoje.”
Ajude-me a entender como é:
– nunca sair para uma corrida sem carregar uma lata de spray de pimenta
– ouvir homens rindo sobre o seu peso ou o tamanho do busto
– ser sempre minoria na sala de reuniões
– ao ser abraçada, peito a peito, é incapaz de se libertar
– temer registrar uma reclamação no local de trabalho porque os supervisores são do sexo masculino
– ser o alvo de vaias e assobios

Ajude-me a entender como a resposta da igreja precisa mudar.
Precisamos ouvir. Sem zombar, sem dispensar. Precisamos tentar entender.

Igreja, posso exortar-nos a ouvir?
E, então, posso exortar-nos a agir?
O arrependimento é necessário? Então se arrependa.
As desculpas são devidas? Então peça desculpas.
As políticas precisam ser mudadas? Então vamos mudá-las.
A cura começa quando fazemos algo. A cura começa quando damos um passo em direção a Cristo.

Tradução por Dennis Downing
Em Inglês: “A Step Toward Healing”© Max Lucado

Caro Leitor,
Você deve ter notado que nos últimos dias temos incluído nos devocionais de Max Lucado links e informações sobre Maio Laranja, a inciativa nacional de conscientização e combate ao abuso e a exploração sexual infanto-juvenil. Embora isso não tenha sido à pedido do próprio Max, e sim uma decisão da administração do site, sabemos que ele apoia esta luta e se solidariza com as vítimas.

Queremos encorajar todos os leitores do site MaxLucado.com.br a visitarem o site e o Instagram oficial de MaioLaranja e a divulgarem esta campanha por meio das suas redes sociais, assim conscientizando e convocando a ação o maior número de pessoas possíveis. As crianças, e os adultos que estas crianças um dia se tornarão, precisam do seu apoio!

Deus lhe abençoe,
Dennis Downing (admin)

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